sábado, 14 de maio de 2011

Empresto meus neurônios, você quer?

Adoraria ser “poliprofissional”, atuar em todas as áreas. Não é assim que se fala? Então me deixa recado como é, porque não achei explicação no meu Houaiss para o que eu sonho ser.

Continuando meus devaneios, adoraria poder atuar em mais de uma profissão, em atividades totalmente desafinadas, como por exemplo acordar engenheira, lá pelas 10 me tornar cozinheira, pelas 14 ser dona do negócio, às 17 ser aposentada de carteirinha e dormir onde estiver, lá pelas 19 ser saxofonista, às 21 já estar no aconchego do lar com as crianças, curtindo a vida familiar, mas meia noite é a hora “D”, volto ao meu habitat natural e continuo na deliciosa profissão de jornalista.

Nem pensem que chutei os horários, cada um tem seu motivo. A meu ver, toda construção deve ter seu pico alto de produção pela manhã, basta ver pesquisas sobre importância da claridade e índices de produtividade. Duas horas antes do almoço, as cozinheiras já estão com quase tudo pronto para satisfazer seus clientes e só estão finalizando seus pratos, porque é muito chato ter que picar cebola e outros temperos, mais gostoso é jogar tudo na panela e ir desenhando sua obra de arte. Qualquer dono de empresa deve ter nesse horário a clara visão da produtividade do seu dia, do que ainda falta fazer e finalizar sua programação, sempre mentalizando o sucesso. Todo cair de tarde me bate um sono, preciso cochilar, nem que seja encostada no banco da praça.

Imagina só sacar meu sax, nesse horário no qual todos ainda estão correndo como loucos e eu relaxando, tocando minha própria música? Demais!

Curtir a família e amigos é relaxante qualquer dia da semana, após um dia de labuta. Mas, depois de tudo isso, caio em mim, porque o que amo mesmo é ser jornalista, pesquisar, descobrir, aprender, entrevistar, fuçar, criar, escrever, editar, reeditar e viajar na próxima pauta.

Já perceberam a quantidade de profissionais que quer pegar emprestado neurônios de outros? Eu pretendo criar esse novo negócio, por isso que quero aprender de tudinho: para ter mais clientes. Mas logo aviso, não será mais voluntário o empréstimo, de agora em diante vou cobrar, é o meu novo ramo de atuação.

Tem engenheiro que não sabe nada na prática, contrata pedreiros bons, dá ordens, mas nem sabe como executar, o pedreiro vai sempre ganhar mal, mas os patrões estarão sempre sendo apontados como os emergentes no mercado.

Alguém sabe como é que se presta serviço de consultoria? Vamos supor no ramo de direito, por exemplo, um advogado vai lá, oferece o serviço ao cliente, este por sua vez fica todo feliz que está contratando o melhor. O advogado liga para o colega de profissão e pergunta como ele faria se tivesse um caso assim ou assado e o advogado ganha o pãozinho quentinho e pronto do colega, é só transformar nas peças certas e vem o veredicto: fiz bonito com o chapéu alheio.

Em restaurantes, só sabem pensar em como o chef é bom, mas ninguém sabe como aqueles legumes foram cortados tão certinhos para se transformar naquele lindo e delicioso prato.

A família está bem organizada e feliz? Com certeza, tem alguém que está se esforçando para por tudo nos trilhos e sair perfeito. Talvez seja a mãe, o pai, os avós, a secretária do lar. Mas no dia que falarem que os filhos foram bem criados, ninguém vai pensar quem estava contribuindo para tudo isso.

Boa parte dos empresários também não sabe como funciona cada departamento de sua empresa, não é a toa que muitas empresas quebram, mesmo a ideia sendo genial. Para gestar algo, tem que se conhecer com profundidade o universo que há por traz daquela simples ideia. Concorrentes, organização comercial e administrativa, passo a passo da produção, logística, leis, contabilidade, perfil de clientes, nível de satisfação dos colaboradores e muitos outros detalhes que são pertinentes a cada tipo de empresa.

Quando observamos profissionais que fizeram curso superior e até pós, mas que ainda não conseguem realizar seu trabalho com segurança, fico logo imaginando que há um nicho de mercado muito bom nesse de se emprestar neurônios, porque é um tal de pedirem modelos prontos para tentarem fazer igual. Talvez seja porque os professores estejam indicando aos alunos que vejam outros trabalhos semelhantes para poderem desenvolver o deles, sem explicar que existe uma fórmula básica nesse aprendizado: não copiar, só observar.

Não me meto a analisar outras áreas do saber, mas na de comunicação, por exemplo, não adianta olhar um trabalho de assessoria montado para uma empresa de aparelhos de som e querer fazer um igual para um escritório de advocacia. Cada área tem sua peculiaridade, deve ser analisada como um objeto único. Lógico que algumas fórmulas são básicas e podem ser aplicadas para qualquer uma, no entanto, se o maior problema da empresa é na parte de comunicação interna, não adianta apresentar um projeto voltado para inserir a empresa nos veículos de comunicação. Nem se pode enviar uma pauta sobre cães para uma revista só de pássaros. Perder uma entrevista praticamente agendada para um cliente; não saber convencer o assessorado do quanto aquele assunto é importante e deve ser concedida a entrevista; não participar de um evento que o assessorado pediu a presença... Mas está me dando um nó na cabeça pensar em todas as coisas absurdas que já ouvi! E sabe o que falta: neurônios.

Talvez seja por isso que a melhor parte do dia nessa semana toda para mim, foi a do cochilo, mesmo não sendo aposentada.

Um comentário:

  1. Mais uma vez um belo texto! Obrigado por nos brindar com suas palavras.
    Eu gostaria de ser 13, apesar do número cabalístico. E digo por que: queria ser 13 para morar em todos as 14 capitais de estado que já conheço, excetuando Porto Alegre!
    A diferença entre tu e mim é que eu queria ser um para cada lugar e você queria ser uma a cada hora.
    Muito boa idéia!

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