sábado, 28 de maio de 2011

Uma bota estressada

Uma amiga nesta semana comentou sobre muita gente duvidar sobre o diacho do inferno astral. A pobrecita, também geminiana, perdeu todos os seus contatos. Pois é, sorte desses que duvidam, talvez nunca tenham precisado acreditar, porque nada lhes acontece.

Está sendo tão insano dessa vez, que nem quero ficar remoendo aqui cada detalhe de cada coisa absurda que ocorreu, mas essa eu tenho que dedilhar, para conseguir cair na risada, porque apesar de eu ter ficado uma fera, tipo uma mistura de leoa, com tigre, com cobra e sei lá eu mais que bicho revoltado... se pensar bem, dá uma comédia e tanto!

Vou começar desde o primeiro puxão do fio da meada, porque a coisa já foi esquisita desde a minha linha de pensamento.

Eu tinha 4 peças para levar para o conserto: 1 bota para trocar o zíper, 1 rasteirinha para trocar a sola, 1 bolsa para consertar a alça e uma outra para pintar. Óbvio que tudo isso seria feito por um bom sapateiro, a minha desgraça foi conhecer logo três e tive que fazer uma lista imaginária sobre o porquê levar a um ou a outros.

O primeiro da lista era uma Sapataria muito antiga lá no Centro de Sampa, mas foi o primeiro a ser descartado porque cobra uma exorbitância.

O segundo fica aqui pertinho de casa, uns 15 minutos de caminhada até lá, mas para deixar lá durante a semana, tinha que levar tudo para o trabalho e depois passar no final da tarde e ir fazendo mandinga para o trânsito estar bom e eu chegar a tempo de encontrar as portas abertas. Lógico que se tento fazer algo assim um mês antes do meu aniversário, a porta estará fechada. Fora as vezes que nem desço uns pontos antes de casa, porque o trânsito estava tão ruim que já sabia que não ia dar certo. Para que não fiquem se perguntando se tentei, mesmo assim, é óbvio que não bato bem das bielas e tentei por 3 vezes.

Na quarta vez, desci com a sacola e raciocinei no meio do caminho: e se eu tentar de novo e não chegar a tempo? Melhor deixar no mocinho aqui, afinal, ele já fez 2 serviços bem direitinho e de um amigo também. O tal mocinho trabalha naqueles quiosques lindos de madeira em plena Praça Antonio Prado e resolvo então dar uns passos para trás e fazer orçamento com ele.

Acertamos preço e ele começa as marcações, anota num papel mínimo, de exatamente 8,5 X 4,5 cm (ainda estou com ele, logo saberão porquê), assim:
Sapateiro
...nº do celular... Jusmar
1 Zíper
1 sola
2 bolsas
Logo perguntei: escuta, você não vai confundir?
- Não, pode deixar.
- Olha lá, não vai trocar o zíper da bolsa e por alça na minha bota, heim?
- Não, pode deixar.

Pedi aos parceiros de trabalho dele que testemunhassem e confiei. Esse tal papelzinho ficou comigo e em cada peça ele etiquetou com meu nome, prometendo entregar 5 dias depois. Preciso falar que ele não cumpriu a promessa? É óbvio, lembrem-se, estou no meu inferno astral. – Olha, daqui uns 3 dias eu termino. E assim fomos, 1ª semana, 2ª semana, 3ª semana, dei um ultimato: não vai furar dessa vez. Mas, para garantir menos irritação, passei só na quarta-feira, ao invés da prometida segunda-feira. Ufa! Não é que dei sorte?! Ops! Ia esquecebdo de contar que na 2ª semana, passei mais de uma vez e numa delas dei a sorte ou o azar de ver que ele estava fazendo um dos meus serviços: a minha rasteirinha predileta, que trouxe de JP (João Pessoa/PB). Ela tem muitos detalhes em um tecido colorido e estava cheinha de um troço preto, tive um chilique.

– Escuta, isso é tecido e se ficar tudo sujo ou manchado eu bato em você, porque não tem como me repor essa peça.

- Pode ficar tranquila, é só o pó da sola, mas sai tudo, olha.

Que sorte a dele!

Mas, voltando ao dia da retirada, veja só como inferno astral é coisa séria: o moço começa a procurar, abrindo cada sacola e eram bem mais de 10. Já me apavorei. Que alívio, achou 3 peças, só falta a bota. Foi me mostrando vários modelos, cheguei até a pensar que estava numa loja comprando. Quando me mostrou a minha suposta bota, eu bati o olho e disse: é quase igual, mas não é minha, essa tem o salto mais alto e é número 39, a minha é 38. Aí começou o pior...

- Nossa moça, então entreguei para uma outra cliente. Mas não se preocupa não, ela trabalha aqui pertinho e amanhã eu resolvo isso.
Nem vou estressar meus leitores com detalhes do meu discurso naquele momento. Sai enfurecida, avisei que só pagava quando recebesse a bota e, se ele não me devolvesse, teria que pagar outra.

Dia seguinte, quinta-feira da 3ª semana, passo lá na hora do almoço e ele me diz que não viu a moça ainda. Falei para ir logo atrás, de novo ele me falou com toda tranquilidade: pode deixar, vou resolver. Passo de tarde, nada. Avisei para me devolver até sexta-feira e me fui, ainda não muito fera, achava que tudo ia se resolver.

Mas na sexta-feira, logo cedo o fofo nem estava lá. Volto às 10 e ele no maior sossego me diz que ainda não viu a cliente. Mandei ele se virar, correr atrás dela, porque eu queria usar minha bota no sábado. Preciso contar que chamei ele de irresponsável e péssimo profissional? E olha que ele deu muita sorte porque meu dicionário de palavras de baixo calão estava hermeticamente fechado!

Às 11 horas em ponto liguei, com medo até que o número fosse falso, mas ele atendeu, disse que falou com a cliente, que ela não percebeu porque era da filha dela, que não tinha ninguém em casa e que só podia devolver a noite para ele. Eu não quis nem saber, avisei que queria na minha casa na sexta a noite, sem a menor piedade, porque se ele tivesse ido conversar com a mulher na quinta-feira, nada disso teria acontecido.

Eu já não disse para vocês que inferno astral é coisa séria? Vejam só como piorou a situação. O tal Jusmar veio até aqui, chegou eram mais de 21 horas, eu estava na academia fazendo meus exercícios diários para poder suportar esse meu tal inferno astral, a portaria avisou via interfone e minha insana mãe entendeu: - moço que veio consertar a porta. O porteiro por sua vez também não deve ter um ouvido muito bom, porque disse ao pobre moço que a dona da casa não ia atender e que ia chamar a polícia se ele insistisse. Mas não julguem mal minha véinha, não foi só a deficiência de audição que assola todas as pessoas de idade, ela tinha fortes motivos para entender que “o moço veio consertar a porta”.

Vou explicar. A porta do armário dela, recém comprado, estava com problema para fechar, ela falou com a dona da loja que mandou um rapaz para consertar justamente naquela tarde de sexta-feira. Claro que “trazer a bota” e “consertar a porta” é igualzinho, né gente? Óbvio que ela achou que tinha cheiro de golpe no ar e disse ao porteiro que se insistisse ia chamar a polícia. Mas o tal do porteiro ouvir que a porta já foi consertada e não deixar o sapateiro entregar a bota, foi demais para os nervos dessa fera que frequenta a minha cabeça.

Em resumo, segunda-feira, estando em pleno período de gozo de férias, terei que ir até o centro buscar a dita cuja da bota.

Peço uma única gentileza a todos: façam uma corrente de pensamentos positivos para que mais nenhum mal acometa a pobre coitada da bota.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Pensando em letrinhas

Sinceridade custa caro? Deve custar, porque há muitas pessoas que não passaram nessa fila antes de descer à terra.

sábado, 14 de maio de 2011

Empresto meus neurônios, você quer?

Adoraria ser “poliprofissional”, atuar em todas as áreas. Não é assim que se fala? Então me deixa recado como é, porque não achei explicação no meu Houaiss para o que eu sonho ser.

Continuando meus devaneios, adoraria poder atuar em mais de uma profissão, em atividades totalmente desafinadas, como por exemplo acordar engenheira, lá pelas 10 me tornar cozinheira, pelas 14 ser dona do negócio, às 17 ser aposentada de carteirinha e dormir onde estiver, lá pelas 19 ser saxofonista, às 21 já estar no aconchego do lar com as crianças, curtindo a vida familiar, mas meia noite é a hora “D”, volto ao meu habitat natural e continuo na deliciosa profissão de jornalista.

Nem pensem que chutei os horários, cada um tem seu motivo. A meu ver, toda construção deve ter seu pico alto de produção pela manhã, basta ver pesquisas sobre importância da claridade e índices de produtividade. Duas horas antes do almoço, as cozinheiras já estão com quase tudo pronto para satisfazer seus clientes e só estão finalizando seus pratos, porque é muito chato ter que picar cebola e outros temperos, mais gostoso é jogar tudo na panela e ir desenhando sua obra de arte. Qualquer dono de empresa deve ter nesse horário a clara visão da produtividade do seu dia, do que ainda falta fazer e finalizar sua programação, sempre mentalizando o sucesso. Todo cair de tarde me bate um sono, preciso cochilar, nem que seja encostada no banco da praça.

Imagina só sacar meu sax, nesse horário no qual todos ainda estão correndo como loucos e eu relaxando, tocando minha própria música? Demais!

Curtir a família e amigos é relaxante qualquer dia da semana, após um dia de labuta. Mas, depois de tudo isso, caio em mim, porque o que amo mesmo é ser jornalista, pesquisar, descobrir, aprender, entrevistar, fuçar, criar, escrever, editar, reeditar e viajar na próxima pauta.

Já perceberam a quantidade de profissionais que quer pegar emprestado neurônios de outros? Eu pretendo criar esse novo negócio, por isso que quero aprender de tudinho: para ter mais clientes. Mas logo aviso, não será mais voluntário o empréstimo, de agora em diante vou cobrar, é o meu novo ramo de atuação.

Tem engenheiro que não sabe nada na prática, contrata pedreiros bons, dá ordens, mas nem sabe como executar, o pedreiro vai sempre ganhar mal, mas os patrões estarão sempre sendo apontados como os emergentes no mercado.

Alguém sabe como é que se presta serviço de consultoria? Vamos supor no ramo de direito, por exemplo, um advogado vai lá, oferece o serviço ao cliente, este por sua vez fica todo feliz que está contratando o melhor. O advogado liga para o colega de profissão e pergunta como ele faria se tivesse um caso assim ou assado e o advogado ganha o pãozinho quentinho e pronto do colega, é só transformar nas peças certas e vem o veredicto: fiz bonito com o chapéu alheio.

Em restaurantes, só sabem pensar em como o chef é bom, mas ninguém sabe como aqueles legumes foram cortados tão certinhos para se transformar naquele lindo e delicioso prato.

A família está bem organizada e feliz? Com certeza, tem alguém que está se esforçando para por tudo nos trilhos e sair perfeito. Talvez seja a mãe, o pai, os avós, a secretária do lar. Mas no dia que falarem que os filhos foram bem criados, ninguém vai pensar quem estava contribuindo para tudo isso.

Boa parte dos empresários também não sabe como funciona cada departamento de sua empresa, não é a toa que muitas empresas quebram, mesmo a ideia sendo genial. Para gestar algo, tem que se conhecer com profundidade o universo que há por traz daquela simples ideia. Concorrentes, organização comercial e administrativa, passo a passo da produção, logística, leis, contabilidade, perfil de clientes, nível de satisfação dos colaboradores e muitos outros detalhes que são pertinentes a cada tipo de empresa.

Quando observamos profissionais que fizeram curso superior e até pós, mas que ainda não conseguem realizar seu trabalho com segurança, fico logo imaginando que há um nicho de mercado muito bom nesse de se emprestar neurônios, porque é um tal de pedirem modelos prontos para tentarem fazer igual. Talvez seja porque os professores estejam indicando aos alunos que vejam outros trabalhos semelhantes para poderem desenvolver o deles, sem explicar que existe uma fórmula básica nesse aprendizado: não copiar, só observar.

Não me meto a analisar outras áreas do saber, mas na de comunicação, por exemplo, não adianta olhar um trabalho de assessoria montado para uma empresa de aparelhos de som e querer fazer um igual para um escritório de advocacia. Cada área tem sua peculiaridade, deve ser analisada como um objeto único. Lógico que algumas fórmulas são básicas e podem ser aplicadas para qualquer uma, no entanto, se o maior problema da empresa é na parte de comunicação interna, não adianta apresentar um projeto voltado para inserir a empresa nos veículos de comunicação. Nem se pode enviar uma pauta sobre cães para uma revista só de pássaros. Perder uma entrevista praticamente agendada para um cliente; não saber convencer o assessorado do quanto aquele assunto é importante e deve ser concedida a entrevista; não participar de um evento que o assessorado pediu a presença... Mas está me dando um nó na cabeça pensar em todas as coisas absurdas que já ouvi! E sabe o que falta: neurônios.

Talvez seja por isso que a melhor parte do dia nessa semana toda para mim, foi a do cochilo, mesmo não sendo aposentada.